Em época de greve na rede superior de ensino, o ministro da educação, Aloízio Mercadante dá uma coletiva neste dia 31 de maio em que aborda o assunto da educação inclusiva. A educação precisa ser vista não de maneira isolada, porém como uma política pública. Com dados um tanto quanto duvidosos, Mercadante faz afirmações das quais podemos duvidar.
Uma das afirmações do ministro foi que “O Brasil tem que ter 100% das crianças e jovens com deficiência na escola. A escola de atendimento especial é um direito, sim, mas para ser exercido de forma complementar e não excludente”. Percebe-se que é uma benéfica distinção entre escola regular e escola especial, uma não anulando a outra, entretanto, até que ponto isso é realmente bom? É sabido que há não muito tempo, houve o interesse de fechar as escolas especiais ou com atendimento especializado, deixando a encargo das escolas regulares toda a responsabilidade pelos alunos ditos inclusos. Agora o discurso é trazido com ambiguidade, e quem garante que este não seja o primeiro passo, ou seja, primeiro se colocam as crianças 'inclusas' com atendimento também especializado em outra instituição, para depois deixá-las apenas no ensino regular?
As escolas regulares estão sendo munidas com alguns materiais, normalmente distribuídos em forma de cartilha, os quais explicam de forma superficial como tratar certas necessidades especiais. Estes materiais não suprem, em hipótese alguma, a inclusão ou integração na escola. O dado trazido por Mercadante de haver 78% dos professores com curso em educação é de muito duvidoso, pois não se precisa ir longe para ver que esta formação de fato não existe.
A primeira distinção que necessitaria ser feita é com a relação legal, estabelecida por diretrizes e leis, que diferenciam inclusão de integração. O projeto do governo, por mais que leve o nome de inclusivo, trata as necessidades específicas como padronizadas, e acaba por integrar os alunos, ou seja, não presta uma assistência especializada para o aluno. Ao falar da acessibilidade nas escolas, Mercadante diz serem ao todo 22% das escolas acessíveis. Muitas vezes vemos o tratamento dado à acessibilidade como sendo apenas a física, ou seja, instalação de rampas e adaptação de banheiros para cadeirantes. A discussão de acessibilidade vai muito além destes detalhes, que apesarem de serem importantes, não findam a questão. Precisa-se pensar em alunos especiais de uma maneira mais ampliada. Alunos surdos, por exemplo, teriam acessibilidade se todos os funcionários da escola fossem bilíngues, ou seja, usuários de língua de sinais. Alunos com altas habilidades, por outro lado, se os funcionários soubessem como tratar com cada tipo de alta habilidade. Não se pode fazer um pacote e denominá-lo "Educação Inclusiva" e assim aplicá-lo em todas as escolas, muito pelo contrário. As necessidades específicas diferenciam-se demais em tipos, níveis e modos de tratamento.
Há certos tipos de necessidades específicas que necessitam, por exemplo, de um acompanhamento especializado, clínico propriamente dito. Não se tem, na maioria das vezes, um diagnóstico clínico claro desses alunos para um acompanhamento psico-pedagógico eficaz, quiçá preparo por parte dos profissionais da educação. Colocar mais este encargo nas costas dos professores é mais um amadorismo por parte do governo, que está tratando a educação de maneira secundária. Na verdade, infelizmente se entende isso, pois não interessante a um governo sem estrutura uma sociedade pensante, e deixar exatamente a classe dos professores desarticulada é uma ótima estratégia para que isto permaneça sempre assim, uma sociedade que tendo pão para comer e futebol para aplaudir, sente-se satisfeita.
Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17814:ministro-defende-inclusao-de-alunos-com-deficiencia-em-classes-regulares&catid=372&Itemid=86
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Anderson Spier Gomes
Assessor de Comunicação do Centro Acadêmico de Letras da UTFPR