Hoje, terça-feira, dia sete de agosto de 2012, foi realizada mais uma assembleia do SINDUTF (Sindicato dos Docentes da UTFPR), no miniauditório da universidade, com o início em segunda chamada a partir das 14h38min. Os pontos da pauta consistiam em dar informes sobre o andamento do movimento grevista, fazer uma avaliação sobre a proposta do governo, entre outros. A assessoria de comunicação do CALET se fez presente, trazendo em primeira mão matéria para o blog detalhada sobre a assembleia.
Quem presidiu a mesa foi o professor Ivo, atual presidente do SINDUTF, acompanhado do professor Edson Fagundes, secretário do sindicato, e da professora Nanci, também da atual gestão sindical. Dando início aos informes, o professor Edson esclareceu que as unidades da UT que realizaram reuniões em seus câmpus foram unânimes em decidirem sobre a manutenção do movimento de greve, com radicalização do mesmo e impossibilidade de abandonar o principal ponto de luta, a reestruturação de carreira com níveis claros ("steps") e ascensão clara de um nível para outro. As unidades citadas pelo professor Edson foram: Pato Branco, Toledo, Dois Vizinhos. As unidades de Medianeira, Apucarana e Ponta Grossa se fizeram representadas por professores das unidades na assembleia de Curitiba, e foram ao encontro das demais, dizendo também apoiarem o que ficasse definido pela assembleia de Curitiba.
Algumas sugestões dos câmpus foram interessantes. Destacam-se entre elas, o esclarecimento de quem é o PROIFES, para que a sociedade tenha clareza de o mesmo não ser de fato representante das vontades da categoria e sim um aliado do governo (Esclarecimento que já foi feito em matéria anterior neste blog, confira a matéria
clicando aqui). O pedido de radicalização do movimento foi também realizado, bem como melhoria das condições de trabalho e o pedido de uma estrutura de 12h em sala para os professores, assim como foi feito na UFPR, também foram levantados.
O professor representante de Ponta Grossa chamou o PROIFES de "PROIFES/Governo", tendo em vista o posicionamento da instituição sempre em consonância com a instância governamental e sem levar em conta a vontade da categoria docente. Trouxe ainda uma contribuição um tanto quanto interessante. O que acontece é que, na cidade deste professor, existe um candidato à prefeitura pela sigla do PT. Esse candidato compareceu à reunião da categoria lá, e disse "O governo não está levando vocês a sério", o que demonstra uma desarticulação interna do Partido dos Trabalhadores, o qual esquece, principalmente, sua origem grevista.
Outro ponto levantado nesta assembleia, em repetição à assembleia anterior, foi para a não aceitação dos GT's que governo propõe para um progresso de discussão futura com a categoria, principalmente no que concerne aos níveis de carreira. Um dos argumentos foi que isso ocorreu desde 2010, e não levou a nada. Uma lembrança do professor Edson foi também de que, em 2008, por exemplo, os níveis da carreira de um modo de ingresso de professores seria alterado (os tão falados EBTTs), sendo que desde lá não foi realizado nada de fato.
A pedido do sindicato, uma representante jurídica do sindicato se fez presente, para esclarecer principalmente dois pontos. O primeiro seria a questão de o ANDES entrar com um pedido na justiça pela não representatividade real do PROIFES da categoria docente universitária. A representante explicitou que isso não seria possível, pois de fato não existem categorias de representação de servidores públicos, por mais que haja o direito à greve assegurado pela constituição a qualquer trabalhador. Na verdade, a estruturação como temos hoje é possível, juridicamente, apenas na esfera privada, e não na pública. Todavia, tal organização ajuda no momento de negociação, que é sempre convocada pelo próprio governo, sendo a organização comumente chamada de "representação coletiva", em termos jurídicos. O segundo ponto foi com relação a, se algum câmpus decidir, em reunião local a voltar a dar aula e houver algum professor que quiser continuar em greve, se este professor será retalhado pelo posicionamento. Obviamente há possibilidades de retalhação, como sempre há, entretanto o desejo de voltar às atividades deveria ser feito em reunião local no câmpus em questão e depois levado à assembleia que se realiza em Curitiba, a única que de fato tem poder deliberativo para dizer se a UTFPR enquanto instituição única e multi-câmpus saiu ou permaneceu na greve. Sendo que, se a universidade em si estiver em greve, o professor poderia teoricamente continuar engajado.
Houve a intervenção da professora Silvana, do DAMAT, a qual trouxe à memória algumas relações do movimento grevista. O mesmo existe há pelo menos uns 200 anos, de acordo com ela, e ainda assim falta conscientização das categorias como um todo. Precisa-se lembrar o que é uma luta de classe, que tem instâncias menores, como as seções sindicais locais, tal como o SINDUTF, e as de instâncias superiores, como o ANDES, que trabalham em acordo. Os representantes não vão com ideias próprias, e sim ideias de uma categoria que se reuniu e deliberou por algo, que ainda que esses representantes sejam contrários, irão lutar pela deliberação anteriormente feita. Sair da greve agora, como apontado por alguns presentes e pedido no início da assembleia como ponto de pauta, seria, para a professora Silvana, um demonstrar que os professores não sabem de fato o que querem, pois as propostas (ou "a proposta", pois só foi uma de fato) do governo não são satisfatórias às reivindicações da categoria, e mais, revelaria que os professores são um "bando de porra-loucas" se saíssem da greve agora.
Dando continuidade aos informes, o professor Ivo relatou já ter havido uma média de 20 assembleias pelo país, e de que todas rejeitaram as propostas do governo, além de falarem em radicalização do movimento. Ainda de acordo com o professor Ivo, haveria uma matéria no UOL em que um representante do governo diz que essa era a única cartada do governo, ou seja, eles não têm um 'plano b'. As universidades que seriam supostamente representadas pelo PROIFES (o qual foi chamado carinhosamente de 'CONTRAIFES'), em assembleias locais também rejeitaram as propostas do governo, o que nos faz perguntar: quem de fato o PROIFES está representando? A saber, são elas UFMG, UFBA, UFSC as que rejeitaram a proposta, diferentemente apenas da UFSCar que aceitou. Houve, mais tarde, o relato de outros dois IFES que também pediram desfiliação do PROIFES e interesse de afiliação no ANDES.
Em seguida, fez-se a projeção da proposta assinada pelo PROIFES (ou PROGOVERNO) com o governo. O professor que fez a explicação dos termos e das tabelas diz-se sentir constrangido por ter que explicar novamente a proposta, tendo em vista que ela não mudar, tendo sido apenas 'maquiada'. A estruturação da carreira ainda não existe neste acordo, nem a porcentagem clara das diferenças dos níveis na carreira, tampouco como se faz para mudar nesses níveis (este ponto, de acordo com o documento, seria discutido posteriormente em GTs, os quais são totalmente desacreditados por parte dos sindicatos). Isso sem contar que os aposentados são sequer citados no documento.
Os blocos de discussão se iniciaram. Primeiramente o professor Edson disse da questão dos EBTTs e de os GTs não terem realizado nada desde 2008 em que foram criados. Nas tabelas das propostas do governo, vários pontos que já haviam sido acordados foram simplesmente ignorados. Os titulares, os quais receberiam o aumento tão divulgado pela mídia de 40%, seriam os fantasmas do acordo, pois não se sabe como chegam a esta titulação e nem quem são as pessoas que estão lá ou as que participam do grupo do MEC que as outorga. O desrespeito com os aposentados também continua. Assim, seria necessário continuar o movimento da greve com cada vez mais força.
Em seguida, o professor Ivo fez uma intervenção, falando sobre três tipos de posicionamentos frente à insatisfação para com um governo. O primeiro seria com uma guerrilha de fato, indo à faca. O segundo seria o pacífico, como foram os movimentos de Gandhi, e, por último, aqueles que dizem "Ah, deixa assim mesmo". Os professores enquanto categoria pensante e formadores de opinião pública devem, categoricamente, não deixar o conformismo tomar conta de si mesmos, ou seja, não se deve aceitar o carneirismo que o governo está tentando aplicar através do PROIFES.
Outros professores se utilizaram da fala. A professora Silvana ao voltar a falar, disse que o retorno às aulas agora seria legitimar a mentira do governo, que trabalha sempre com o máximo do aumento possível, 45%, enquanto o ANDES mostra a média (ou em termos mais corretos, a 'moda', ou seja, o salário mais ocorrido entre os docentes). Assim, acaba por conseguir manipular a opinião pública que hoje chega a dizer que os professores estão de festa e sem vontade de negociarem.
Uma contribuição foi muito interessante, com relação às datas. Tendo em vista que o governo dá por encerrada a negociação com a categoria, o prazo de 31 de agosto que tanto é falado não necessariamente o prazo final para a greve, como muitas vezes vem sendo veiculado. Caso o governo não negocie, a continuidade da greve pode se dar sim, pois quando há vontade governista ou parlamentar, há mudanças no orçamento inclusive depois dessa data que seria o limite orçamentário para o próximo ano. Vide as reduções do IPI, os perdões de dívidas de instituições privadas, dentre outros. Assim, se para o governo os professores estão satisfeitos, que aguente mais greve.
O prejuízo sofrido pelos alunos foi um ponto levantado na reunião, sendo que os professores sabem que haverá prejuízo aos mesmos, mas a qualidade do ensino não pode mudar. Gostaria de aqui fazer um comentário um pouco maior. Estive lendo esses dias atrás alguns comentários de discentes sobre a greve. O ponto central de um dos textos foi que os professores na verdade estariam querendo apenas aparecer e seriam eles que não querem negociar com o governo que está fazendo a sua parte em negociar. Obviamente o aluno que fez esse comentário não deve participar das assembleias locais, e está se alimentando apenas de informações advindas da grande mídia e mais, não consegue diferenciar uma notícia tendenciosa e mentirosa do real ocorrido. Esse tipo de aluno não pode ser aceito no final da sua formação com o mesmo tipo de leitura, um aluno que não consiga diferenciar uma jogada política através de uma notícia tendenciosa do que de fato está ocorrendo. A falta que se evidencia no texto está na leitura, no ensino básico sucateado, e não de estruturas gramaticais ou vocabulares, ou seja, não se consegue fazer uma análise do discurso e das vozes que percorrem o texto. Os professores não se sentem motivados a ensinarem os alunos pelas condições precárias que estão ensinando, e pelos baixíssimos salários que recebem se comparados a profissionais de outras áreas com o mesmo nível de formação.
Voltando à assembleia em si, os cometários finais ficaram por conta do histórico do PT. Partido o qual sempre teve ressonância e aceitação no meio acadêmico, e que hoje simplesmente ignora o ambiente universitário. A tradição grevista e o apoio dos universitários ao movimento estão deixados de lado hoje. Um dos professores lembrou de um slogan do início do PT e o parafraseou, dizendo que com o atual governo o professor estaria "Sem meios de feliz" (em lembrança ao slogan: "Sem medo de ser feliz", que era jingle na época do Collor).
Ao final da assembleia foram votados os pontos. A proposta do governo foi rejeitada por 88 docentes, sendo que 1 voto foi contrário e 2 se abstiveram. O pedido de encaminhamento ao ANDES da vontade de retorno às atividades obteve apenas 2 votos favoráveis, 85 contrários além de 6 abstenções. Houve ainda o pedido de uma movimentação mais forte na imprensa para tentar mostrar o que está realmente acontecendo.
Haverá uma reunião do CLG (Comando Local de Greve) às 9h30min no pátio da UTFPR - CT neste dia 08 de agosto.
É preciso ter certeza que, se o movimento de greve for largado agora, teremos sempre uma população que se deixa alienar pelos meios de comunicação e continua a repetir discursos sem refletir sobre eles. A mudança começa na categoria dos professores, a qual forma todas as outras, e não pode, jamais, ser desvalorizada do jeito que está sendo.
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Anderson Spier Gomes
Assessor de Comunicação do Centro Acadêmico de Letras da UTFPR